Conclusões do Livro Personal Wealth From A Global Perspective

Uma série de conclusões importantes podem ser tiradas a partir da discussão dos estudos do livro editado por James Davies. A maioria destas conclusões são de natureza positiva [o que é], mas algumas são normativas [o que deveria ser]. É claro que a baixa riqueza e o pouco acesso a crédito podem exacerbar os problemas de pobreza em países em desenvolvimento e em transição.

Providenciar instituições, programas e políticas que ajudem os pobres a construir sua riqueza e a contrair empréstimos, em condições adequadas, portanto, é um objetivo que deve ter amplo apoio. Amplo consenso também pode-se esperar em torno da ideia que as pessoas não devem ser capazes de construir fortunas por meio da corrupção ou de concorrência desleal, e que a ação para evitar isso é importante.

Quanto a se também deve haver tentativas de redistribuir a riqueza, e que forma elas devem ter, é uma questão mais controversa, e que está além do escopo deste livro. No entanto, nos países em desenvolvimento com distribuição muito desigual da terra, e nos países em transição com questionáveis ​​práticas de privatização, tende a haver uma grande desigualdade de renda e riqueza. Se as reformas agrárias equitativas ou a redistribuição de ativos privatizados pudessem ser realizadas de forma ordenada, e possuíssem amplo apoio popular, então parece ser muito conveniente recomendá-las.

Algumas das principais conclusões da pesquisa relatada neste livro são:

  • A riqueza das famílias é muito desigual, tanto dentro dos países, quanto no mundo como um todo.
  • Durante a industrialização, primeiro, a desigualdade de riqueza cresceu na maioria dos países desenvolvidos, mas, depois, experimentou um longo declínio, com a disseminação de ativos populares como bens de consumo duráveis e um declínio na desigualdade de renda. Esta tendência continuou até a década de 1970. O padrão pode ser descrita como uma forma de J invertido.
  • Na maioria dos países, a tendência nas últimas três décadas tem sido no sentido de haver uma maior desigualdade de riqueza. Em países de transição, isto é, em parte, resultado da substituição de padrões socialistas da propriedade (coletiva) por aqueles próprios de uma Economia de Mercado, isto é, propriedade privada. Em outra parte, ele é associado com o crescimento da desigualdade de renda, a desregulamentação dos mercados financeiros, e a alta das cotações nas Bolsa de Valores, tudo isso aumenta mais a desigualdade na distribuição da riqueza. No entanto, o crescimento da riqueza não foi tão forte quanto se poderia esperar em todos os países. Usando medidas-padrão, evidência disso tem sido especialmente fraca nos EUA. Embora a força da alta das ações afete o top 1 e 5%, foi o aumento dos preços das casas que teve um impacto maior para os grupos de média riqueza. Mas pesquisas recentes também sugerem que a impressão de pouco aumento na desigualdade de riqueza nos EUA pode ser enganosa, uma vez que, quando todas as formas de riqueza relacionadas à aposentadoria são incluídas, e é dada atenção à desigualdade global, e não apenas à riqueza do topo da pirâmide social, caracteriza-se uma tendência de crescimento significativo na desigualdade de riqueza.
  • Diferenças de riqueza entre os países têm, em média, provavelmente vindo a declinar nos últimos anos, por causa do rápido aumento de riqueza na China e na Índia.
  • Tem havido uma tendência, nas últimas décadas, para a concentração de riqueza crescente entre os verdadeiramente ricos. Isso pode estar relacionado com a cada vez mais difundida natureza dos mercados globais: o “vencedor leva tudo”.
  • Tendências dos preços de habitação e hipoteca podem ter importantes implicações para as despesas de consumo e, portanto, para a situação macroeconômica. A força dos efeitos-riqueza varia de país para país, dependendo da natureza das instituições e do nível de desenvolvimento financeiro.
  • Nos países em desenvolvimento, o fato das pessoas apenas terem acesso (ou não) às instituições financeiras não parece afetar a pobreza. Porém, à medida em que elas passam, de fato, a usar produtos financeiros, isso resulta em queda da pobreza. Isto sugere que os programas que reduzam as barreiras práticas para a utilização de instrumentos de crédito e poupança por parte dos pobres são importantes.
  • Falta de título formal de propriedade da terra e da moradia pode retardar o crescimento de renda e impedir o desenvolvimento. Essa propriedade não pode ser usada como garantia para empréstimos de instituições financeiras. Continuar a promover programas de titulação deve ajudar mais as famílias a terem o acesso ao crédito e construir posições de riqueza nos países em desenvolvimento.
  • Escolhas de carteira de ativos domésticos diferem consideravelmente entre os países. Nova pesquisa é necessária para investigar por que este é o caso, e para estabelecer se existe uma ligação entre essas diferenças e as de desigualdade de riqueza.
  • A riqueza é, provavelmente, mais importante para o bem-estar, em especial para os grupos mais pobres e de baixa renda, em países em desenvolvimento e em transição do que em países de alta  renda. Onde as redes de segurança social e a disponibilidade de crédito são diminutas, ou carentes, os ativos domésticos servem como uma importante forma de cuidar da própria segurança pessoal. Eles também permitem autofinanciamento para a criação de empresas e de operação.
  • É, portanto, particularmente importante estudar a riqueza das famílias de países em desenvolvimento e em transição, precisamente os países onde os dados são atualmente rarefeitos.

James B. Davies espera que a pesquisa relatada neste livro seja eficaz em demonstrar a grande importância dos bens pessoais em desenvolvimento econômico, redução da pobreza e dos padrões de desigualdade. No futuro, as avaliações internacionais de pobreza e desigualdade devem fazer o melhor uso possível de dados sobre os bens e direitos domésticos, ou seja, a riqueza, além de estudarem o consumo e a renda. E muito mais precisa ser feito para aumentar a qualidade e disponibilidade de dados sobre a riqueza das famílias. Os bancos centrais e as agências nacionais de estatística devem trabalhar para produzir estimativas de orçamentos e patrimônios domésticos. Perguntas sobre riqueza devem ser incluídas em pesquisas domiciliares, e pesquisas sobre a riqueza devem focalizar o nível superior, a fim de obter resultados mais precisos possíveis. Finalmente, a cooperação internacional deve ser estabelecida a fim de comparar métodos e experiências e divulgar as melhores práticas na produção de dados sobre a riqueza das famílias.

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