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Perpetuando Vantagem de Nascença

Em alguns aspectos, a ligação entre disparidades de renda e menor mobilidade social é surpreendente. De aulas de violino a tutores para testes, os pais ricos podem ajudar mais a seus filhos, melhorando suas chances de entrar nas melhores universidades. A dedução é que a provisão pública de serviços básicos, embora devesse ser meritocrática, nomeadamente, no acesso à educação, ela deve ser compensada de maneira suficiente a contrariar a vantagem inicial de nascença e dar a todos a chance de um começo profissional razoável.

Isso nunca foi verdade em países pobres com serviços sociais rudimentares. Cada vez mais, isso parece ser verdade em países ricos, particularmente na América do Norte. Mas a ligação entre desigualdade e mobilidade em declínio não é inevitável. Países como a Suécia, que investem pesadamente (e progressivamente) nos serviços públicos são mais propensos a evitar a desigualdade de renda através da redução da igualdade de oportunidades. E a América Latina mostra que investir mais na educação de crianças das camadas de baixa renda pode melhorar a mobilidade social, mesmo nos lugares mais estratificados.

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Desigualdade X Eficiência = Esquerda X Direita

Mitt Romney, candidato republicano à Presidência norte-americana, causou revolta, durante sua campanha eleitoral, quando ele descartou as preocupações sobre a desigualdade como elas fossem apenas a propaganda da “luta de classes” que não tinha lugar no discurso público dos Estados Unidos. Ao invés de cultivar a “inveja social“, através do debate sobre a distribuição de renda, ele argumentou em favor da criação de uma mobilidade social “baseada no mérito”, na América, resultante de políticas que incidem sobre a produtividade e o crescimento econômico.

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Medidas da Mobilidade Social

Hoje em dia, os economistas medem a mobilidade ao longo da vida (da pobreza à riqueza ou vice-versa), entre gerações (como é a situação dos filhos em relação a dos seus pais), em termos absolutos (se os filhos são mais ricos ou mais pobres do que os seus pais) ou em termos relativos (se os filhos estão em nível maior ou menor na escala de renda do que os seus pais).

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Variedades de Capitalismo segundo o INCT/PPED

Recentemente, tive a honra de ser convidado para dois eventos no Rio de Janeiro, um Seminário do  Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento e  uma defesa de tese de doutoramento no IESP-UERJ, onde encontrei grande compatibilidade com minha linha de pesquisa recente: Desenvolvimentismo e/ou Variedades de Capitalismo. Trata-se da rede PPED, INCT-PPED, MNDS e IBRACH.

Para entender essa rede de ensino e pesquisa: o PPED-IE-UFRJ é um Programa de Pós-Graduação reconhecido pela CAPES. Possui permanência institucional e relaciona-se com os demais, sendo que cada instituição tem seu campo intelectual próprio. O INCT-PPED tem prazo de duração de 5 anos, dos quais já passaram 3. Ele é uma rede de ensino, pesquisa, diálogos políticos, cujo campo intelectual soma Variedades de Capitalismo, Inovação e Meio Ambiente. Nos dois últimos anos, adicionaram Capacidades Estatais Comparadas e Vantagens Comparativas Institucionais. O MINDS tem seu campo definido na idéia de Brazil as a Global Player (veja www.minds.org.br). O IBRACH privilegia a dimensão de estudos Brasil- China (www.ibrach.org). Todos esses campos intelectuais possuem intercessões, e aí notáveis professores e pesquisadores trabalham todos juntos.

Vamos apresentar abaixo os Conceitos que nortearam a criação do INCT-PPED, cuja linha de pesquisa “Variedades de Capitalismo” me interessa bastante. Para quem não a conhece, ela está muito bem sintetizada.

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A Volta do Perfeito Monetarista Fracassado

Podem me acusar de humor sádico, porém depois de ler tanta insuflação do “julgamento de exceção”, efetuada pelo PIG [Partido da Imprensa Golpista] até justamente as eleições de domingo passado, eu tenho me deliciado com o desespero dos serristas! No caso particular dos colunistas da Falha de SP, estão cada vez mais histriônicos…

Pena que a direita brasileira é muito troglodita e demofóbica. Pior, o jornal líder da “grande” (imeeensa) imprensa brasileira dá cada vez mais espaço para quaisquer colunistas direitistas, mesmo que sejam desconhecidos ou estrangeiros sem lugar alhures…

Por exemplo, Eduardo de Carvalho Andrade [Quem? Advertiram-me que ele, naturalmente, tem publicações internacionais, como isso fosse critério de julgamento de excelência ideológica! Basta achar isso relevante e se dedicar a trocar favores com estrangeiros influentes…], com toda experiência acumulada em 45 aninhos de vida, doutor em economia pela Universidade de Chicago [Ninho de filhotes do Milton Friedman, aquele guru do monetarismo, que só foi aplicado duas vezes na história econômica: com Reagan e Tachter; depois, mesmo os neoliberais por prudência política o rejeitaram!], é professor da faculdade Insper. [Ah, bom… ‘Tá explicado…]

Veja como é lamentável a linha de ataque ideológico adotada por este ignorante da história econômica brasileira.

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Lançamento do Livro "Do Desenvolvimento Renegado ao Desafio Sinocêntrico"

O livro organizado por Ana Célia e Lavínia Castro, esposa e filha de Antonio Barros de Castro, reunindo textos publicados em revistas e alguns ainda inéditos, ficou muito atraente.

O lançamento foi realizado na Livraria da Travessa. Eu gostaria muito de ter estado lá entre os amigos do Castro.

Veja a capa com as homenagens dos amigos:

CAPA_Do Desenvolvimento Renegado ao Desafio Sinocêntrico_completa

Em Defesa do Capitalismo: A Imaginação Econômica

Diogo Bercito (FSP, 02/09/12)  entrevistou a jornalista Sylvia Nasar, com formação em Literatura e Economia, que investiga em livro dois séculos de história do pensamento econômico. Em entrevista, ela conta que se assustou ao descobrir que Marx não entendia conceitos básicos de Economia e lamenta que ele seja mais lembrado que nomes como o neoclássico Alfred Marshall.

[FNC: Pelo vídeo acima, ela acha que as ideias econômicas, e não as lutas sociais, que movem a história. Na história da Filosofia ocidental, a contenda sempre ocorre entre dois pólos: o dos materialistas e o dos idealistas ou, usando termos de origem inglesa, entre os empiristas e os racionalistas. O materialismo, isto é, a crença de que não há nada fora da natureza que possa ser apreendido pelos sentidos, logo, de que não há Deus nem ideais, entrou em moda pela primeira vez no século XVIII com o Iluminismo francês. Houve fases nas quais o idealismo reinava absoluto. Ao contrário do materialismo, ele confia pouco no conhecimento sensorial do mundo e se apóia na força basicamente independente da razão e de suas idéias.]

A lista de piores livros já escritos, para a jornalista americana Sylvia Nasar, autora do best-seller “Uma Mente Brilhante” [sobre John Nash e a Teoria dos Jogos], inclui “O Capital“, de Karl Marx, ao lado de “Minha Luta“, de Adolf Hitler!

A falta de carinho em relação ao teórico do marxismo resultou do susto que Nasar tomou ao se aprofundar em sua obra. “Venho de um ambiente acadêmico marxista, então fiquei chocada quando percebi que Marx não entendeu conceitos básicos, como a ideia de juros“. [É “um pouco demais”, não?!]

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Visão de Keynes sobre Probabilidade

John Kay é professor visitante na London School of Economics. Publicou diversos livros, entre eles “Obliquity: Why our goals are best achieved indirectly” (Obliquidade: por que a melhor maneira de alcançar nossos objetivos é indiretamente). Em artigo (Valor, 15/08/12), ele faz leitura da Teoria da Probabilidade em Keynes, parece-me, influenciado por vieses heurísticos catalogados pelas Finanças Comportamentais.

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Raiz da Crise da Economia Norte-americana: Desigualdade Social

Para Joseph Stiglitz, os EUA poderiam ter uma economia mais eficiente e estável se sua sociedade fosse mais igual

Matthew Craft (Associated Press apud Valor 10/08/12) entrevista Joseph Stiglitz, vencedor de Prêmio Nobel de Economia. Para, a crise da economia norte-americana pode ser atribuída ao crescente fosso entre americanos ricos e todos os demais. Em seu novo livro, “O Preço da Desigualdade“, ele estabelece um nexo entre o crescente endividamento dos que tomam empréstimos educacionais, a bolha imobiliária e muitos outros problemas do país e maior desigualdade. Quando os ricos continuam ficando mais ricos, diz ele, os custos se acumulam. Por exemplo, é mais fácil escapar da pobreza no Reino Unido e no Canadá do que nos EUA. “As pessoas na base da pirâmide têm menor probabilidade de realizar seu potencial”, afirma.

Leia trechos da entrevista:

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Crise? Que Crise?!

Em 2001, eu estava à esquerda da centro-esquerda do pensamento keynesiano! Havia os novos keynesianos, tipo Joseph Stiglitz, cuja centro-direita era composta por velhos keynesianos fiscalistas (como James Tobin) e, à direita desta, a síntese-neoclássica (Samuelson, Solow, Blanchard, Dornbusch). Na centro-esquerda estava Davidson e Kregel. Eu gostava de Minsky, Hicks e Shackle, e entendia a posição de Basil Moore. Os pós-keynesianos “fundamentalistas” me classificavam, então, de “horizontalista“. Não, caro leitor, não estava deitado na cama… E nem tinha fama…

Foi quando um canadense, Louis-Philippe Rochon, e um egresso da UFRJ, Matías Vernengo, foram me resgatar da marginalização. Convidaram-me para publicar um artigo – POST-KEYNESIANISM AND HORIZONTALISM / PÓS-KEYNESIANISMO E HORIZONTALISMO – como capítulo de livro, organizado por eles, e publicado pela Editora Edward Elgar na Inglaterra e Estados Unidos: Credit, Interest Rates and The Open Economy: Essays on Horizontalism. Fiquei muito grato, mas nunca tinha tido a oportunidade de conhecer e agradecer pessoalmente.

No I Congresso do Centro Celso Furtado, realizado na semana passada no Rio de Janeiro, tive a grata satisfação de conhecer o Matias Vernengo. Para minha surpresa, ele é Gerente Principal de Investigación do Banco Central de la República Argentina! Perguntei-lhe: “Como um brasileiro está trabalhando no Banco Central argentino?!”. Simplesmente me respondeu: “Sou argentino, embora tenha sido criado no Rio e estudado na UFRJ”. Além do mais, o carioca-portenho é muito bem humorado, como se pode comprovar em sua palestra, e pensa originalmente!

Parte da palestra é baseada no texto “Toward an Understanding of Crises Episodes in Latin America”, Levy Economics Institute, Working paper No 728, disponível em http://www.levyinstitute.org/pubs/wp_728.pdf que ele, gentilmente, me enviou: Toward an Understanding of Crises Episodes in Latin American A Post-Keynesian Aproach LEVY ECONOMICS INSTITUTE wp_728

Enviou também sua palestra: Palestra de Matias Vernengo no I Congresso do CICEF

Vejam também seu blog, cujo link coloquei em Favoritoshttp://nakedkeynesianism.blogspot.com.br